O comportamento suicida é influenciado por uma série de fatores de risco e de proteção. A avaliação dessas variáveis é imprescindível para determinar o risco e adotar uma conduta adequada.
A Organização Mundial de Saúde define o suicídio como um “ato intencional de um indivíduo para extinguir a própria vida”. Por sua elevada prevalência definida a partir de estudos epidemiológicos, passou a ser considerado um problema de saúde pública de proporções mundiais e objeto de inúmeros estudos científicos e de programas de prevenção
Hoje vamos falar sobre esse tema, abordando os principais ponto importantes para você médico saber.
Excelente leitura!
Fatores de risco
Fatores psicossociais
- Suicídio de parente, pessoa famosa ou amigo, luto, perda de ente querido
- Término de relacionamento (divórcio, separação, viuvez)
- Relacionamento familiar ruim
- Baixo suporte social
- Outros: humilhação pública, bullying, perda de emprego, ser preso, agredido.
Transtornos mentais
- Transtornos do humor (depressão, transtorno bipolar)
- Transtornos de personalidade (borderline, antissocial)
- Esquizofrenia
- Ansiedade (transtorno de estresse pós-traumático, transtorno do pânico)
- Transtorno do uso de substâncias (álcool, drogas ilícitas)
- Transtornos alimentares (anorexia)
- Transtorno do sono
Condições médicas
- Doenças neurológicas (esclerose múltipla, Huntington, epilepsia)
- História de trauma cranioencefálico
- Doenças em estágio terminal
- Câncer
- HIV/Aids
- Diagnóstico recente de doença grave
- Piora de doença crônica
- Uso de medicações que aumentam o risco de suicídio
Sintomas físicos
- Dor crônica
- Insônia
- Limitação funcional
Preexistentes e não modificáveis
- Idade (jovens e idosos)
- História familiar de suicídio ou tentativa, transtornos mentais
- Abuso físico, sexual ou psicológico na infância, negligência, trauma sexual
- Baixo nível educacional
- Orientação sexual (LGBT)
- Crenças culturais e religiosas
Fatores de proteção:
- Gravidez, ter crianças em casa
- Suporte social adequado, estar empregado, relações interpessoais positivas na família e/ou comunidade
- Satisfação com a própria vida, boa autoestima, visão otimista de futuro
- Religiosidade
- Habilidade para lidar com estresse e tolerar frustração, habilidade para resolução de problemas, bom controle de impulso
- Acesso a serviços de saúde de qualidade
- Adesão a tratamentos de saúde mental
Avaliação
A avaliação do comportamento suicida por profissional de saúde mental capacitado é uma peça-chave para a condução do caso.
Durante essa avaliação, devem-se obter informações sobre o estado mental do paciente e de seu histórico, o que pode ser feito por observação, questionamento direto ou coleta de história com terceiros. Isso permite ao médico estimar o risco e tomar as condutas necessárias para evitar um desfecho desfavorável.
Características avaliadas em pacientes com comportamento suicida:
Comportamento suicida
- Pensamentos suicidas, auto lesivos, intenção ou planejamento
- Arrependimento ou não em relação à tentativa
- Evidência de desesperança, anedonia, impulsividade
- Método usado para a tentativa, incluindo a letalidade e a expectativa de letalidade pelo paciente
- Pensamento, planos ou intenção de violência contra outros
- Evidência de uso de substância psicoativa
- Razões para viver e planos para o futuro
História pessoal
- Tentativas de suicídio prévias, tentativas abortadas ou outros comportamentos auto lesivos
- Respostas pregressas a estressores; capacidade de teste de realidade
- Habilidades de resolução de problemas; capacidade de tolerar dor psíquica
- História psiquiátrica com especial atenção para transtornos do humor, anorexia, esquizofrenia e transtornos do uso de substâncias
- Transtornos de personalidade
- Tratamentos prévios para transtornos psiquiátricos, incluindo hospitalizações
- História familiar de suicídio ou tentativas, ou história familiar de transtornos mentais, incluindo abuso de substâncias
- História de doenças clínicas e seus tratamentos atuais e prévios, incluindo cirurgias ou hospitalizações
Situação psicossocial
- Crises psicossociais agudas e estressores psicossociais crônicos
- Status empregatício, situação de vida e presença ou ausência de suporte social
- Conjuntura familiar (incluindo se há ou não criança em casa) e qualidade das relações familiares
- Crenças culturais ou religiosas sobre morte ou suicídio
- Acesso a armas de fogo ou pesticidas
Estimativa dos riscos
Entende-se que o comportamento suicida se apresenta em um continuum, que se estende entre a vontade de continuar a viver e a certeza da intenção de se matar.
O percurso entre um extremo e outro pode levar anos ou minutos, a depender das peculiaridades de cada paciente. O risco de suicídio não é uma característica estática, estando em constante flutuação.
Tabela de riscos:
Fonte: Adaptada de American Psychiatric Association (2008), Department of Veterans Affairs (2013) e Berman e Silverman (2013).
Prevenção:
A prevenção consiste em formular estratégias efetivas como a redução do acesso a meios comuns de tentativas, como armas de fogo e pesticidas, o acompanhamento de pessoas com tentativas de suicídio prévias e a implementação de call centers de emergência.
Terminamos sobre esse assunto! Caso tenha interesse em mais temas da área da Psicologia conheça nossa Pós-Graduação de Psiquiatria.
Referência: Manual de Psiquiatria- Felipe Paraventi.