O envelhecimento do sistema ginecológico leva a alterações funcionais que, a despeito de a mulher manter hábitos de vida saudáveis, contribuem para o aparecimento de doenças. Uma boa parte delas ocorre no período pós-menopausa, em geral relacionadas com a deficiência estrogênica. Há também aumento da prevalência de câncer nessa fase da vida.
A mulher idosa comumente falha em manter sua avaliação ginecológica rotineira. Estima-se que, em muitos casos, quando um problema ginecológico é diagnosticado, já apresente sintomas há cerca de 8 meses e a avaliação preventiva não seja realizada há cerca de 4,5 anos.
Por meio disso, resolvemos hoje esclarecer sobre algumas doenças malignas que podem acometer mulheres na pós-menopausa!
Boa leitura!!
Por que muitas mulheres não vão regularmente ao ginecologista ?
1. Dependência de terceiros para o transporte ou de acompanhante;
2. Redução da mobilidade física, com restrições para o exame ginecológico e desconhecimento das possibilidades alternativas para a sua avaliação;
3. Constrangimento em despir-se ou mesmo em expor suas necessidades ou dificuldades sexuais associadas a mudanças fisiológicas do envelhecimento que, em geral, não são socialmente respeitadas ou impõem maior ônus à idosa para se submeter ao exame ginecológico;
4. Desconhecimento das reais necessidades de prevenção e de diagnóstico precoce de doenças ginecológicas, que quando adequadamente diagnosticadas e tratadas, possibilitam melhoria na qualidade de vida e na longevidade;
5. Experiência desagradável em consulta ginecológica prévia, pela falta de tato na anamnese ou no próprio exame físico, que exige mais delicadeza nesse momento da vida;
6. A multiplicidade de especialistas que por vezes precisa consultar, decorrentes de condições clínicas próprias da idade.
Você médico precisa saber:
Mulher após sua fase reprodutiva e após o climatério:
A mulher após a sua fase reprodutiva e após o climatério continua precisando de avaliação ginecológica regular, com anamnese orientada, mais cuidadosa e delicada, diante do maior constrangimento e fragilidade que podem estar associados.
Além disso, necessita de prevenção regular, por meio de avaliação ginecológica, dos exames de colpocitologia oncótica (Papanicolaou) e da mamografia, que devem ser realizados periodicamente. A Associação Médica Americana recomenda que o Papanicolaou seja realizado a cada 3 anos, após 2 exames negativos sequenciais, sem limite de idade.
Investigação das mamas:
A investigação das mamas deve ser anual em situações de normalidade e de baixo risco para tumores ginecológicos e após duas avaliações normais, há quem recomende a bianuidade do exame.
Nas condições de alto risco a avaliação deve ser determinada individualmente. Ressalta-se que frequentemente é a própria paciente que percebe, no autoexame, nódulos ou espessamentos anômalos em suas mamas.
Obs 1.: O exame clínico ginecológico e a mamografia devem ser anuais ou determinados individualmente de acordo com o perfil de risco para tumores ginecológicos.
Obs 2.: Oitenta por cento dos problemas ginecológicos da mulher com mais de 65 anos são caracterizados por sangramento pós-menopausa em que qualquer quantidade é significativa, inflamações ou infecções vulvovaginais, lesões vulvares, pólipos cervicais e prolapso genital com ou sem manifestação urinária.
Doenças ginecológicas malignas
Neoplasias da vulva
Apesar de serem mais raras, incidem principalmente em mulheres dos 65 aos 75 anos, correspondem a 5% dos tumores ginecológicos, mas não devem ser negligenciadas, pois podem ser de evolução dramática.
As doenças da vulva podem se apresentar com prurido, verrugas, ulcerações ou nódulos, que devem ser avaliados pela inspeção e pela vulvoscopia, com biopsia dirigida sempre que indicada, para estudo anatomopatológico. O câncer de vulva diagnosticado precocemente é de bom prognóstico. Porém, em geral são de diagnóstico tardio e com má evolução.
Neoplasias de vagina
Neoplasias primárias de vagina são raras, menos de 2% dos tumores ginecológicos. Cerca de 80% dos tumores vaginais são metastáticos, mais frequentemente do colo e do endométrio, mas também podem ser metástases de melanoma, do câncer de cólon, mamas ou rins.
Sua propedêutica é semelhante à do colo uterino. Em geral, o diagnóstico precoce tem bom prognóstico, ao contrário dos tumores invasivos.
Neoplasias do colo uterino
O câncer cervical é citado ainda como o mais frequente dos ginecológicos em países subdesenvolvidos. Porém, apresenta evidente declínio de sua incidência mundo afora, provavelmente pela melhor qualidade de assistência, com a realização sistemática do exame de Papanicolaou.
Após os 65 anos, sua ocorrência é mais rara, apesar de que casos avançados do tumor possam se apresentar nessa faixa etária, em mulheres que nunca se submeteram ao exame ginecológico. Deve entrar no diagnóstico diferencial das metrorragias.
Os sintomas mais frequentes são: sangramento, corrimento por vezes de odor fétido, desconforto vaginal e disúria.
Neoplasias de ovários
Essa é a neoplasia ginecológica com maior agressividade, pois em 2/3 dos casos o diagnóstico é feito com a doença já disseminada. É o sexto câncer mais comum em mulheres, correspondendo a 4% de todos os cânceres femininos e a 25% dos ginecológicos.
Os tumores mais frequentes são de origem epitelial (70%), germinativos, do estroma e outros tipos raros.
A maior incidência é por volta dos 56 anos: cerca de 80 a 90% das neoplasias epiteliais ocorrem após os 40 anos e 30 a 40% delas surgem após os 65. Quando se observa a presença de tumor ovariano após a menopausa, a chance de ser maligno chega a 30%.
Neoplasias do endométrio
O grupo de risco clássico das neoplasias do endométrio é composto por mulheres obesas, hipertensas, diabéticas, com baixa paridade, menopausa tardia, em idade pós-menopausa e da raça branca, mas qualquer mulher pode ser afetada. O pico de incidência é na sexta década, podendo ocorrer, em 2 a 5% dos casos, antes dos 40 anos.
Atualmente se considera que a principal causa da doença seja a ação de estrogênio não antagonizada por progestógeno, como se observa nos casos de obesidade, ciclos anovulatórios, terapia de reposição hormonal sem progestógeno, baixa paridade e uso de tamoxifeno. A incidência desse tumor aumenta paralelamente com o avançar da idade.
Os tipos histológicos mais frequentes são o adenocarcinoma endometrioide (70 a 80%), o adenocarcinoma com diferenciação escamosa (5%), o carcinoma adenoescamoso (10 a 20%), o carcinoma seroso e o carcinoma de células claras.
Neoplasias de mama
O câncer de mama é responsável por cerca de 30% dos novos casos de câncer em mulheres de países desenvolvidos, ou seja, é o câncer ginecológico mais frequente na mulher. É raro abaixo dos 25 anos, aumenta após os 30 anos e predomina após os 50 anos.
Os fatores predisponentes são: antecedente pessoal de câncer na mama contralateral, história familiar da doença em parentes de primeiro grau principalmente quando antes da menopausa, mutação nos genes BRCA (cerca de 40 a 80% das mulheres terão o tumor em algum momento de suas vidas), nuliparidade, consumo excessivo de álcool, obesidade e, possivelmente, uso de anticoncepcional oral.
A mamografia e a USG são os melhores métodos para a detecção precoce. O exame clínico só detecta nódulos maiores e, em geral, em fases mais avançadas. Recomenda-se mamografia anual após os 40 anos.
Terminamos a primeira parte desse assunto! Fique ligado, pois logo iremos fazer uma segunda parte do texto de Geriatria, que será focado na importância de consultas regulares para doenças ginecológicas benignas.
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Referência:
Tratado de Geriatria e Gerontologia - Quarta edição