A síndrome de Burnout é uma resposta prolongada a estressores interpessoais crônicos no trabalho, caracterizada por três dimensões interdependentes: exaustão emocional, despersonalização e redução do sentimento de realização pessoal. Há uma propensão dos profissionais de saúde em desenvolvê-la, sendo frequentemente identificada em médicos de diferentes especialidades (25 a 60%), médicos residentes (7 a 76%) e enfermeiros (10 a 70%).
Diante dos potenciais efeitos do estresse ocupacional sobre o bem-estar físico e emocional dos profissionais da área da saúde, a Faculdade Cenbrap, resolveu escrever um texto sobre as principais definições, fatores de risco e estratégias de prevenção da síndrome de Bornout.
Boa leitura!!
Definição:
Segundo as definições mais atuais, a síndrome de Burnout se caracteriza por uma resposta prolongada a estressores interpessoais crônicos no trabalho que se apresenta em três dimensões interdependentes: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal.
Exaustão emocional:
A exaustão emocional é caracterizada pelos sentimentos de estar sobrecarregado e exaurido de seus recursos físicos e emocionais, levando ao esgotamento de energia para investir nas situações que se apresentam no trabalho.
Essa situação é considerada qualidade central e manifestação mais óbvia da síndrome, estando associada a sentimentos de frustração diante da percepção dos profissionais de que não possuem condições de depreender energia para atender os pacientes como faziam anteriormente.
Despersonalização:
Na medida em que a exaustão emocional se agrava, a despersonalização ou cinismo pode ocorrer, os quais são caracterizados por uma postura distante ou indiferente do indivíduo em relação ao trabalho, aos colegas e aos pacientes.
A despersonalização é considerada uma resposta à exaustão emocional, constituindo-se como estratégia de enfrentamento do indivíduo diante do estresse crônico.
Redução da realização pessoal:
Por fim, a dimensão de redução da realização pessoal é referente à tendência do sujeito de avaliar-se negativamente em relação às suas competências e produtividade no trabalho, o que pode acarretar na diminuição da autoestima. Nesta dimensão o indivíduo vivencia um declínio no sentimento de competência e êxito, bem como de sua capacidade de interagir com os outros.
As principais consequências da síndrome de Burnout nos profissionais de saúde:
As consequências da síndrome de Burnout nos profissionais de saúde são graves, na medida em que níveis moderados e altos da síndrome de Burnout estão associados a:
1. Distúrbios individuais, tais como:
- Transtorno de estresse pós-traumático;
- Abuso de álcool;
- Queixas psicossomáticas;
- Uso de drogas;
- Depressão e ideação suicida.
2. Mudanças comportamentais referentes à:
- Insatisfação no trabalho;
- Falta de comprometimento organizacional;
- Intenção de abandonar o trabalho.
3. Problemas no trabalho, como:
- Absenteísmo;
- Piores resultados nas medidas de segurança ao paciente;
- Erros na prática profissional.
Fatores de risco da síndrome de Burnout nos profissionais de saúde:
Fatores Ambientais do Contexto Hospitalar
Os fatores ambientais do contexto hospitalar favoráveis a síndrome de Burnout referem-se à:
- Alta exposição do profissional a riscos químicos e físicos;
- Problemas administrativos devido à forma como se dão os processos de trabalho nos hospitais, que por vezes envolve a falta de autonomia, de controle e participação nas decisões;
- Sobrecarga quantitativa de trabalho devido às longas jornadas de trabalho, alto número de pacientes e ao número insuficiente de profissionais e/ou de recursos;
- Sobrecarga qualitativa de trabalho relacionada ao caráter estressante das responsabilidades dos profissionais de saúde.
Fatores Ambientais Peculiares às Unidades de Terapia Intensiva
Considera-se que fatores ambientais peculiares às UTIs podem favorecer a exposição crônica ao estresse ocupacional e são considerados preditores da síndrome de Burnout, como:
- Presença constante de ruídos excessivos;
- Sobrecarga quantitativa de trabalho relacionada ao número excessivo de horas trabalhadas por semana e turnos noturnos realizados por mês;
- Sobrecarga qualitativa de trabalho referente à alta morbidade e mortalidade dos pacientes, ao maior grau de dificuldade das intervenções realizadas e probabilidade de complicações, ao lidar com a angústia dos familiares e ter pouco tempo para lidar com as necessidades emocionais dos pacientes;
- Ter que participar frequentemente de decisões que envolvem dilemas bioéticos.
Fatores Sociais do Contexto Hospitalar: Atuação em Equipe Multiprofissional
Os fatores sociais do contexto hospitalar favoráveis a síndrome de Burnout referem-se a problemas na qualidade das relações no ambiente laboral presentes nos níveis individual, interpessoal e organizacional e que abrangem desde os conflitos entre os membros da equipe até a tensão que pode existir na interação entre os profissionais de saúde, os pacientes e os familiares.
Entende-se, portanto, que além de trabalhar em um ambiente estressante como o hospitalar, os profissionais de saúde são constantemente confrontados com a interação de percepções conflitantes sobre os papéis profissionais, responsabilidades e atendimento ideal ao paciente.
Fatores Individuais: Importância da Autoestima
A autoestima é considerada um importante indicador de saúde mental e alguns estudos a apontam como uma variável protetora para diversos sintomas, entre eles a ideação suicida, sintomatologia depressiva e a síndrome de Burnout.
O que é possível fazer para prevenir a síndrome de Burnout?
O Ministério da Saúde (2001) indica como tratamento da síndrome de Burnout o acompanhamento psicoterápico, farmacológico e intervenções psicossociais.
Contudo, intervenções individuais, organizacionais e combinadas podem ser realizadas visando sua prevenção através da diminuição do estresse ocupacional.
Nós da Faculdade Cenbrap esperamos que o presente texto tenha contribuído para atualizar seu conhecimento sobre a síndrome de Burnout e facilitar a compreensão das nuances que envolvem seu desencadeamento nos profissionais de saúde, alertando a importância de avaliar intervenções preventivas.
Os efeitos negativos da síndrome de Burnout no bem-estar dos profissionais de saúde e suas consequentes implicações no cuidado prestado ao paciente evidenciam a urgência de intervenções voltadas para essa população, que visem diminuir os níveis de estresse ocupacional, aumentar a autoestima, incentivar o autocuidado e construir um ambiente de trabalho saudável.
Referência:
Burnout syndrome in healthcare professionals: update on definitions, risk factors and preventive measures - Patrícia Perniciotti