Os transtornos de ansiedade são condições graves que resultam em grande prejuízo econômico. O curso das doenças é crônico, e baixas taxas de remissão a curto ou médio prazo são observadas.
O estudo dos transtornos de ansiedade se torna fundamental em razão das altas taxas de prevalência, do grande prejuízo social e econômico decorrente dessas condições e da grande frequência com que aparecem como comorbidade de transtornos psiquiátricos.
Diante disso, hoje iremos falar sobre o transtorno de ansiedade generalizada, que é bastante comum no Brasil.
Boa leitura!
Epidemiologia:
A prevalência pontual dos transtornos de ansiedade ao redor do mundo é de cerca de 4%, enquanto a prevalência ao longo da vida é de 29%.
A relação homem:mulher é de cerca de 1:1,9. É mais comum na adolescência, entre adultos jovens, pessoas divorciadas, desempregados e pessoas de baixa condição econômica.
Fatores de risco
Alguns fatores de risco são comuns a todos os transtornos de ansiedade:
- Sexo feminino
- Baixa escolaridade
- História familiar de depressão
- Raça branca
- Abuso sexual na infância
- Número de experiências traumáticas até os 21 anos
- Ambiente familiar conturbado
- Baixa autoestima
Psicopatologia do transtorno de ansiedade generalizado:
Principal característica
Presença de ansiedade excessiva na maior parte dos dias.
Também é comum o indivíduo ficar:
- Tenso
- Angustiado
- Irritado
- Preocupado com os problemas, como as dívidas que tem a pagar ou os compromissos a cumprir
- Com o pensamento predominantemente no futuro e, em geral, de maneira reverberante
Obs 1.:
Pode apresentar alteração do sono (sendo mais comum a insônia inicial) e do apetite, sensação ruim, medo exacerbado, dificuldade de relaxar e de se concentrar.
Sintomas somáticos são comuns, como opressão torácica, cefaleia, dores musculares, epigastralgia, taquicardia, formigamento, sudorese e tremores. A ansiedade permeia diversos aspectos da vida do indivíduo e, em diferentes graus, gera prejuízo.
Critérios diagnósticos do transtorno de ansiedade generalizada:
1. Ansiedade excessiva e preocupação ocorrendo em mais da metade dos dias por pelo menos 6 meses, relacionado com certos eventos ou atividades (como trabalho ou desempenho escolar).
2. O indivíduo acha difícil controlar a preocupação.
3. A ansiedade e a preocupação estão relacionadas com três (ou mais) dos seguintes sintomas (com os sintomas aparecendo em mais da metade dos dias nos últimos 6 meses).
- Inquietação ou sensação ruim (de tensão) ou nervosismo
- Sentir-se cansado com facilidade
- Dificuldade de concentração ou sensação de “branco na mente”
- Irritabilidade
- Tensão muscular
- Distúrbio do sono
4. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento significativo ou prejuízo social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento
5. Os sintomas não podem ser explicados por condição fisiológica ou efeitos de substâncias (droga ilícita, medicação) ou outra condição médica (hipertireoidismo)
6. Os sintomas não são mais bem explicados por outro distúrbio mental (preocupação em ter crises de pânico, ansiedade secundária a delírios na esquizofrenia etc.)
Tratamento
A ansiedade faz parte de sistema evolucionário útil e só deve ser tratada quando:
Prejudicial, ou seja, quando atrapalha o funcionamento ou a qualidade de vida do indivíduo.
Aconselhamento e informação podem resolver ou melhorar o quadro, sem necessidade de outras intervenções.
O tratamento deve ser baseado na preferência do paciente, gravidade do quadro, na presença de comorbidades, nos riscos (suicídio, abuso de substâncias etc.), na história dos tratamentos prévios e nos custos do tratamento. Sempre se deve começar explicando a patologia e as possibilidades do tratamento com os seus respectivos riscos.
Quais são os medicamentos usados?
Entre as medicações, os antidepressivos são as mais importantes, não havendo grandes diferenças de eficácia entre as classes. Entretanto, em virtude do menor perfil de efeitos colaterais, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) são as primeiras escolhas.
Os tricíclicos e os inibidores da monoaminoxidase, em geral, são usados como medicações de segunda linha ou para casos refratários. Os benzodiazepínicos devem ser usados por cerca de 2 a 4 semanas, em associação com os antidepressivos, com posterior retirada gradual.
Alguns estudos demonstram que a pregabalina é de primeira linha no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada, enquanto a buspirona é uma opção terapêutica ainda com resultados controversos. Antipsicóticos, betabloqueadores e anti-histamínicos podem ser utilizados como adjuvantes.
Figura 1: Esquema de tratamento dos transtornos de ansiedade.
Tabela 1: Principais medicações usadas nos transtornos de ansiedade.
Obs 2.:
Mesmo sendo um conjunto de diversos diagnósticos diferentes, o tratamento dos transtornos ansiosos tem muitas semelhanças. Para todas essas condições, há no arsenal terapêutico, terapias psicológicas e tratamento medicamentoso. O tratamento deve continuar por pelo menos 6 a 24 meses após a remissão dos sintomas.
Para finalizar...
O grande desafio com relação aos transtornos de ansiedade é a elaboração de estratégias eficazes para prevenção do transtorno. Estudos mostram que terapia cognitivo-comportamental pode ser eficaz para prevenir patologias do espectro ansioso.
Outras medidas universais são úteis para a prevenção da ansiedade. Adoção de alimentação saudável, prática de atividade física, medidas de aumento da renda e da qualidade de vida estão entre os fatores protetores mais importantes.
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Referência:
Manual de Psiquiatria Clínica – Felipe Paraventi