Definição de transtorno dismórfico corporal:
O transtorno é caracterizado por uma preocupação intensa com um defeito percebido na aparência que causa sofrimento emocional significativo e afeta o funcionamento diário. Desse modo, mesmo que exista um pequeno defeito físico, a preocupação é excessiva e desproporcional. Por conta disso, essa condição está no DSM-5 e foi realocado para a categoria de transtornos obsessivo-compulsivos e relacionados, devido à sua sobreposição com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Epidemiologia:
O transtorno dismórfico corporal é subdiagnosticado, em parte porque os pacientes frequentemente procuram ajuda de dermatologistas ou cirurgiões plásticos, em vez de psiquiatras. Nesse sentido, em um estudo entre estudantes universitários descobriu que mais de 50% tinham preocupações com algum aspecto da aparência, e cerca de 25% relataram que essas preocupações afetavam significativamente suas emoções e funcionamento. Logo, constata-se que o início típico ocorre entre 15 e 30 anos, sendo mais comum em mulheres.
Além disso, o transtorno dismórfico corporal frequentemente coexiste com outros transtornos psiquiátricos. Nessa lógica, mais de 90% dos indivíduos com transtorno dismórfico corporal já experimentaram episódios depressivos maiores, cerca de 70% já apresentaram transtornos de ansiedade e aproximadamente 30% desenvolveram transtornos psicóticos.
Etiologia:
A causa exata do transtorno dismórfico corporal é desconhecida, mas vários fatores podem estar envolvidos. Por exemplo, a alta comorbidade com transtornos do humor, a forte história familiar de transtornos do humor e TOC e a resposta positiva a medicamentos que atuam sobre a serotonina sugerem que o transtorno dismórfico corporal pode estar relacionado à desregulação desse neurotransmissor. Somado a isso, ideais culturais e familiares de beleza também podem influenciar o desenvolvimento do transtorno. Constata-se, portanto, que do ponto de vista psicodinâmico, o transtorno dismórfico corporal pode refletir a deslocação de conflitos emocionais ou sexuais para uma parte específica do corpo, através de mecanismos de defesa como a repressão, dissociação ou projeção.
Critérios diagnósticos:
De acordo com o DSM-5, o indivíduo deve ter uma preocupação com um defeito percebido na aparência ou uma preocupação exagerada com uma leve imperfeição. Nessa lógica, em algum momento, o paciente executará comportamentos repetitivos (como verificar-se no espelho ou cuidar excessivamente da aparência) ou atos mentais (como comparar sua aparência com a dos outros). Essa preocupação deve causar sofrimento emocional significativo ou prejuízo no funcionamento diário.
Manifestações clínicas:
As preocupações mais comuns envolvem características faciais, especialmente o nariz, mas também podem incluir a pele, cabelo e outras partes do corpo (como o queixo ou genitais). Por isso, em média, os pacientes podem se preocupar com várias áreas do corpo ao longo do transtorno. Além disso, em alguns homens, uma variante conhecida como "dismorfia muscular" envolve o desejo obsessivo de aumentar a massa muscular, o que pode interferir na vida cotidiana.
Nessa lógica, os sintomas incluem crenças delirantes (como achar que os outros notam o defeito), verificação frequente no espelho ou evitar superfícies refletivas. Essas preocupações podem limitar gravemente o funcionamento social e ocupacional, levando alguns pacientes a se isolarem. Em relação a essa questão, aproximadamente um terço dos indivíduos pode ficar restrito ao ambiente doméstico, e cerca de 20% pode tentar suicídio. Logo, as comorbidades incluem depressão, ansiedade, traços obsessivo-compulsivos e transtornos de personalidade, como o esquizoide ou narcisista.
Diagnóstico Diferencial:
O transtorno dismórfico corporal não deve ser diagnosticado se a preocupação for mais bem explicada por outro transtorno psiquiátrico. Por exemplo, na anorexia nervosa, o foco do paciente é o peso, enquanto na disforia de gênero, a preocupação envolve características sexuais. Além disso, medos relacionados ao odor corporal ou medo de ofender os outros podem se sobrepor ao transtorno dismórfico corporal. Além disso, um diagnóstico de TOC deve ser considerado se as obsessões e compulsões do indivíduo não forem exclusivamente relacionadas à aparência. Portanto, um diagnóstico separado de transtorno delirante, tipo somático, pode ser feito se a preocupação com um defeito físico for delirante em intensidade.
Curso e prognóstico:
O transtorno dismórfico corporal geralmente começa na adolescência, embora possa surgir mais tarde, após um período prolongado de insatisfação com a imagem corporal. Com base no início pode ser gradual ou súbito, e o transtorno tende a ter um curso crônico, flutuante, com poucos períodos livres de sintomas. Por conseguinte, a área específica do corpo em foco pode mudar com o tempo.
Tratamento:
Procedimentos cirúrgicos ou estéticos para corrigir defeitos percebidos raramente são eficazes no tratamento do transtorno dismórfico corporal.
Transtorno dismórfico corporal e cirurgia plástica:
Estudos sugerem que uma porcentagem significativa de indivíduos que buscam cirurgia plástica pode ter transtorno dismórfico corporal, com estimativas variando de 7 a 8%. Desse modo, os procedimentos mais comuns incluem rinoplastia, aumento de mama e aumento peniano. Somado a isso, pacientes com transtorno dismórfico corporal muitas vezes têm expectativas irreais sobre os resultados da cirurgia e podem ficar desapontados ou frustrados quando suas preocupações com a aparência persistem. Nesses casos, a psicoterapia é recomendada para ajudar o paciente a entender as raízes emocionais do seu sofrimento.