Quando pacientes apresentam uma agressividade desproporcional a quaisquer estressores que possam ter iniciado os episódios, além também de sintomas, que os pacientes descrevem como surtos ou ataques, que aparecem em minutos ou horas e, independentemente da duração, entram em remissão de forma espontânea e rápida, podemos estar com um caso de transtorno explosivo intermitente.
Foram relatados altos índices de comportamento incendiário em pacientes com transtorno explosivo intermitente. Outros transtornos do controle de impulsos e de uso de substância, além de transtornos do humor, de ansiedade e transtornos alimentares, foram associados com transtorno explosivo intermitente.
Diante disso, hoje resolvemos escrever um texto sobre tudo que você médico deve saber sobre o transtorno explosivo intermitente.
Excelente leitura!!
Etiologia:
Fatores psicodinâmicos:
Psicanalistas sugeriram que surtos explosivos ocorram como uma defesa contra eventos que ferem o narcisismo do indivíduo. Explosões de raiva servem como distâncias interpessoais e protegem contra mais danos narcisistas.
Fatores psicossociais:
Pacientes típicos são geralmente homens fisicamente grandes, mas dependentes, cuja identidade masculina é pobre. Uma sensação de inutilidade e impotência ou de ser incapaz de mudar o ambiente costuma preceder um episódio de violência física, e um alto nível de ansiedade, culpa e depressão costuma acompanhar o episódio.
Um ambiente infantil desfavorável com frequência preenchido com dependência de álcool, surras e ameaças à vida é comum nesses pacientes. Fatores de predisposição na infância incluem trauma perinatal, convulsões infantis, traumatismo encefálico, encefalite, disfunção mínima no cérebro e hiperatividade.
Obs 1.: Alguns estudos mostram que uma das causas do episódio explosivo é a identificação de figuras paternas agressivas como símbolos do alvo da violência. Frustração, opressão e hostilidade na infância foram notadas como fatores de predisposição.
Fatores biológicos:
Alguns pesquisadores sugerem que uma perturbação na fisiologia cerebral, particularmente no sistema límbico, esteja envolvida na maioria dos casos de violência episódica.
Evidências indicam que os neurônios serotonérgicos medeiam a inibição comportamental. A redução da transmissão serotonérgica, que pode ser induzida pela inibição da síntese da serotonina ou pela antagonização de seus efeitos, diminui o efeito da punição na regulação do comportamento.
Obs 2.: A restauração da atividade da serotonina, administrando-se seus precursores, como L-triptofano ou fármacos que aumentam os níveis sinápticos desse neurotransmissor, restauram o efeito comportamental da punição.
Fatores familiares e genéticos:
Parentes em primeiro grau de pacientes com transtorno explosivo intermitente apresentam índices mais elevados de transtornos do controle de impulsos, transtornos depressivos e transtornos por uso de substância.
Parentes biológicos de pacientes afetados apresentaram maior tendência a ter história de temperamento explosivo ou explosões de raiva do que a população em geral.
Diagnóstico e características clínicas:
O diagnóstico do transtorno explosivo intermitente deveria ser o resultado da investigação da história do indivíduo, revelando vários episódios de perda de controle associados com surtos agressivos. Um episódio isolado não justifica o diagnóstico.
As histórias em geral descrevem uma infância em uma atmosfera de dependência de álcool, violência e instabilidade emocional. As histórias de trabalho dos pacientes são pobres; eles revelam demissões, dificuldades materiais e problemas com a lei.
A maioria deles buscou ajuda psiquiátrica no passado, mas sem melhoras. Alguns dos sintomas que podem acompanhar o surto da pessoa são:
- Ansiedade;
- Culpa;
- Depressão.
Obs 3.: Exames neurológicos às vezes mostram sinais suaves, como ambivalência esquerda-direita e reversão perceptual. Achados eletrencefalográficos, de modo geral, são normais, ou exibem alterações não específicas.
Curso e prognóstico:
O transtorno explosivo intermitente pode começar em qualquer estágio da vida, mas normalmente aparece entre o fim da adolescência e o início da vida adulta. O início pode ser repentino ou insidioso, e o curso pode ser episódico ou crônico. Na maioria dos casos, a gravidade do transtorno diminui com o início da meia-idade, mas prejuízo orgânico maior pode levar a episódios frequentes e graves.
Tratamento
Uma abordagem farmacológica e psicoterapêutica combinada tem a melhor chance de sucesso. Entretanto, é difícil realizar psicoterapia com pacientes que sofrem de transtorno explosivo intermitente por causa de seus surtos de raiva.
Terapeutas podem ter problemas com contratransferência e imposição de limites. Psicoterapia de grupo pode ajudar, e terapia familiar é útil, particularmente quando o paciente é um adolescente ou jovem adulto.
Anticonvulsivantes têm sido usados há bastante tempo, com resultados mistos, no tratamento dos pacientes. Alguns deles são:
- Lítio;
- Carbamazepina
- Valproato ou divalproato e fenitoína
Obs 4.: Benzodiazepínicos são usados ocasionalmente, mas há relatos de que produzem uma reação paradoxal de descontrole em alguns casos.
Obs 5.: Antipsicóticos e drogas tricíclicas foram efetivos em alguns casos, mas os clínicos devem questionar se a esquizofrenia ou um transtorno do humor é o verdadeiro diagnóstico.
Obs 6.: Alguns neurocirurgiões realizaram tratamento operatório para violência e agressividade intratáveis. Não há evidências de que tal tratamento seja efetivo.
Terminamos mais um texto do blog!
Pós-Graduação em Psiquiatria da Faculdade CENBRAP
A Faculdade CENBRAP espera que você tenha aprendido um pouco mais sobre este transtorno de agressividade. Fique atento ao blog, logo logo traremos mais assuntos da psiquiatria que merecem a sua atenção. Até lá!
Referência:
Compêndio de Psiquiatria- Benjamin Sadock.