Todos já sabem que condições como idade avançada, hipertensão arterial, diabetes e doença pulmonar prévia são fatores de risco para o COVID-19. No entanto, a influência dos transtornos mentais na suscetibilidade ao coronavírus ainda é pouco discutida. Preenchendo essa lacuna e dando início a uma ampla discussão, um artigo publicado na Lancet Psychiatry desta semana explica por que transtornos mentais também são importantes fatores de risco para o COVID-19.
O distanciamento social (por recomendações da OMS), o medo, a insegurança e as incertezas que permeiam a sociedade contribuem com o surgimento e agravamento das doenças mentais. Nesse contexto, o artigo explica os 4 motivos pelos quais pessoas com transtornos mentais devem fazer parte do grupo de risco para o coronavírus.
Transtornos mentais podem aumentar o risco de infecções em geral. As possíveis explicações para isso incluem (logicamente, a depender do transtorno): prejuízo congnitivo, redução da consciência do risco, redução de esforços de proteção/prevenção para esses pacientes, além das condições de internação em enfermarias psiquiátricas.
Uma vez infectados pelo novo vírus, pessoas com transtornos mentais podem se deparar com a barreira do preconceito e da discriminação, que dificultam o acesso aos serviços de saúde no tempo adequado.
Além disso, pelas frequentes comorbidades psiquiátricas, o tratamento contra o COVID-19 tende a ser mais desafiador e menos efetivo.
Paralelamente à pandemia viral, ganha força o surto de medo, estresse, ansiedade e depressão. Nesse contexto, pessoas com transtornos mentais são substancialmente mais influenciadas pela maré alta de emoções negativas trazidas pelo novo vírus. Como resultado, pode haver relapsos ou piora de condições metais pré-existentes.
Pacientes psiquiátricos realizam consultas regulares para reavaliação clínica, troca de medicamentos e reajuste de doses. No entanto, grande parte desses pacientes ficaram desamparados pela recomendação de suspensão de atendimentos eletivos.
Sendo assim, sem o acompanhamento adequado, muitos pacientes com transtornos mentais podem apresentar piora do quadro psíquico, o qual, por sua vez, pode refletir também na sua saúde física (como comentado no primeiro tópico).
Telepsiquiatria: a solução em meio ao caos?
Em meio a situação emergencial vivida no país, a telemedicina foi regulamentada (em caráter excepcional e temporário). Inúmeras dúvidas surgem, então, diante do novo cenário: a Telepsiquiatria seria uma boa solução para os pacientes com transtornos mentais? Afinal, como realizar o teleatendimento psiquiátrico? O que pode e o que não pode ser feito?
O assunto é amplo e profundo, por isso será discutido separadamente no nosso próximo texto.
Até lá!
Referências:
YAO, Hao; CHEN, Jian-Hua; XU, Yi-Feng. Patients with mental health disorders in the COVID-19 epidemic. The Lancet Psychiatry, v. 7, n. 4, p. e21, 2020.